2006/09/23

Círculos No Deserto (2004-11-04)

Sentado na areia, sob o sol escaldante
Sonhas em tons de verde
Sobre o verde que te aguarda mais adiante

Bosque, floresta, selva
Um local calmo e protector
Para te abrigar do mundo
Para afastar a dor

Bosque, floresta, selva
Um local frágil e inocente
Para que tu o protejas
E o ames para todo o sempre

Bosque, floresta, selva
Local de conforto e reflexão
Onde te vejas como realmente és
Onde escutes o teu coração

Bosque, floresta, selva
Para te inebriar os sentidos
Para te levar à loucura
Para te lançar na aventura
Sem nunca te deixar perdido

E, logo aí,
Tão perto de ti
Uma torneira
Para a irrigação
Da ilusão
Ou talvez não

Vais abri-la?
Talvez seja demasiado forte
E te afogue numa enxurrada
Ou pior ainda,
Talvez abras tudo
E não saia nada

Talvez agora não seja a altura ideal
Talvez ainda não estejas suficientemente perto
Talvez agir agora vá apenas fazer mal
Talvez seja melhor esperar pelo momento certo

O momento certo...
Esperas por ele todos os dias
E sabes que há-de ser quase perfeito
Há-de ser tudo o que querias

É esse amanhã ideal
Que te cega até não veres
Que te impede, hoje, de seres
Tudo o que podias ser

Levantas-te
Sentes a areia a escaldar-te,
O sol a torrar-te,
O vento quente a fustigar-te,
E a tua pele cada vez mais calejada
Para que, de tudo aquilo que te rodeia,
Nada te possa magoar... nada
Levantas-te... e pensas
“Que venha, então, mais um dia
Nesta longa travessia”

E segues as pegadas que estão na areia à tua frente
Ansioso por saber o que te espera, indo por aí
Mas sem nunca te aperceberes
Que essas pegadas
São iguais às que deixas na areia, atrás de ti